terça-feira, 24 de novembro de 2015

Vendedor de água em semáforo esconde passado de glórias no Treze

Ídolo do Treze. Bicampeão paraibano de futebol em 2010 e 2011. Acostumado às multidões. Ao Estádio Amigão lotado. A jogar o Clássico dos Maiorais, que tinha e ainda tem o poder de parar e dividir toda uma cidade. 
Os tempos de glórias, contudo, ficaram para trás. Mas isso não muda a expressão sorridente e orgulhosa de Thiago Messias, o “xerifão” dos dois últimos títulos do Galo em sua história, mas que hoje precisa vender água e açaí pelas ruas de Campina Grande para poder pagar as contas e sustentar de forma digna a sua família (esposa e quatro filhos). 
O jogador, porém, deixa claro que não quer ser tratado com “pena” ou como um “coitado” e, muito pelo contrário, quer ser visto como um exemplo a ser seguido, de quem opta por trabalhar sempre para conseguir os objetivos na vida.

Thiago Messias vende açaí e água mineral nas ruas de Campina Grande, onde mora (Foto: Reprodução / TV Paraíba)

Depois das conquistas que o consagraram, sua vida começou a mudar por causa das várias contusões, a maioria delas no joelho direito. 
Precisou fazer quatro cirurgias, todas insuficientes para resolver o problema definitivamente. Desistiu da quinta por causa do excesso de sofrimento que cada intervenção provocava. Passou a conviver com dores intensas que nunca mais lhe abandonariam. 
E, de repente, se viu impedido de continuar jogando. Assim, precisou encerrar a carreira. Viu-se desempregado. Mas foi diante das dificuldades que, em vez de se abater, Thiago Messias resolveu dar a volta por cima. E continuar lutando.

Carioca de nascença, ele decidiu adotar Campina Grande como sua casa. Não voltou à cidade natal mesmo depois de precocemente aposentado. 
E é nas ruas da cidade paraibana que o ex-zagueiro do Galo está se virando. Com bom humor e muito carisma, dá uma verdadeira lição ao falar do orgulho que sente em fazer o que faz:
- Não é vergonha recomeçar. Não é vergonha vender água. Não é vergonha vender bala. É vergonha roubar. É vergonha ficar pedindo. É vergonha dar golpes nos outros. Mas tudo o que for trabalho, tudo o que for honesto é digno - destaca o ex-zagueiro trezeano.

Thiago Messias foi bicampeão paraibano pelo Treze
(Foto: Leonardo Silva / Jornal da Paraíba)
Ele fala também sobre as diferenças de tratamento entre a época em que era jogador e os dias atuais, mas deixa claro que diariamente se emociona com o bom coração das pessoas:
- Há muito tempo, eu estava aqui na cidade como jogador de futebol, e os caras chegavam: “E aí, meu zagueiro?”. Hoje eu vejo que muita gente passa e compra só para me ajudar mesmo. Porque eu sou trabalhador. Mas o cara nem sabe quem fui eu, no caso como jogador de futebol. O cara ou a mulher nem sabe de futebol. Só compra mesmo para dar uma força e isso eu acho muito legal. Um coração bom do pessoal aqui de Campina Grande - comenta sorridente.

Thiago Messias tem hoje uma espécie de “carrinho refrigerado” que ele mantém num ponto fixo, próximo à Catedral de Campina Grande. E vende água e açaí para os pedestres e para os motoristas que param num semáforo próximo. 
É o complemento da renda, que tem também um benefício do INSS que pode ser finalizado no final deste ano.
Não foi a primeira opção do ex-jogador após encerrar a carreira. Ele disse que já passou por alguns empregos formais. Foi vendedor numa empresa, mas acabou demitido justamente por causa das intensas dores que ainda hoje ele sente:
- Eu estava trabalhando numa empresa, mas infelizmente tem dias que eu sinto muitas dores. Eu não consigo. Tem dias que eu sinto dores e tenho que faltar. Às vezes a gente acaba perdendo o emprego por causa disso - acrescentou Messias.

Messias, por fim, diz que trabalha hoje com a mesma raça demonstrada dentro de campo. E que está pronto para enfrentar as mesmas adversidades que se encontra num campo de futebol.

Ex-jogador do Treze virou exemplo de superação e encara os problemas com bom humor (Foto: Reprodução / TV Paraíba)
Fonte: TV Paraíba

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